28 de novembro de 2006

À Revolução de Agudo à Crase (título criado ao término do texto)

Hoje acordei, abri meu computador e fui preparar um cafe preto enquanto ele decidia se ia (ou não) trabalhar. O coitado sofre para iniciar sua jornada diaria, demora, trava, pensa e não age; o outlook – judiação! – carrega minhas mensagens, pela manhã, so com mas noticias. As primeiras elucubrações eletrônicas da minha maquina são sofriveis. Tudo bem, afinal de contas, cada um tem o computador que merece.
Mas hoje, dia 27 de novembro – de calor e provavel temporal no fim da tarde – o problema foi mais grave: meu computador acordou sem o acento agudo! E agora, o que sera de meus comentarios pontuais? Tem mais: assim como a Rita levou os meus 20 anos, o meu coração e – alem de tudo – deixou mudo o violão, o Agudo levou com ele a Crase... E que falta estes dois opostos num so me fazem. Com o Agudo a relação e mais antiga. Cometi muitos deslizes nestes anos de convivio, o deixei de lado, fora de muitas construções gramaticais, mas nada que justificasse sumir assim. Ja a crase e paixão recente. Suas nuances, seu desprezo total por verbos, masculinos, cidades, formas de tratamento... O despertar da faculdade para o seu uso facultativo: nome de mulheres e pronomes possessivos...
Minha manhã passei assim, inconformado por evidências de uma ausência, possivelmente, trameira. Mensagens importantes foram arquivadas e o apetite sumiu. A teclinha preta, com duas gotinhas de tinta branca, invertidas uma em relação a outra, era mais importante para mim do que sempre supus. Revirei todos os papeis, abri gavetas, lambi o carpete sob a escrivaninha. Nada. Meu cafe ficou frio e esteve fraco desde que saiu da cafeteira italiana, fui para a padaria.
Comprei um jornal inteiro pensando so na pagina de Esportes, sentei na varanda para fumar sem muita vergonha e pouco incômodo; chamei o Indio, chamei um expresso. Esqueço a tecla. Pensei em escrever uma mensagem que parabenizasse o trabalho da diretoria do meu time. Lembrei da tecla, virei o cafe, queimei a boca, apaguei o cigarro pela metade e deixei o troco como gorjeta.
Quando voltei, para terminar um texto que comecei teimosamente e havia deixado pela metade, uma pitada de surpresa, alegria honesta e muito espanto: “o Agudo e a Crase voltaram!”. A tecla estava mal ajeitada, ao invés de um ponto sobre o outro – e o outro sob um – estavam de lado agora, mas funcionava! Pensei nas razões: talvez o maltrato de anos com a escrita e a utilização imprecisa destes símbolos tivesse revoltado a dupla; pensei também que ambos, presos numa tecla só, quisessem lembrar de sua importância numa gramática onde os ‘as’ ‘és’ ‘is’ ‘ós’ ‘us’ prevalecem mesmo quando comparados a consoantes – que por sua vez sobressaem, de longe, sobre os acentos e os sinais. Por fim – e foi a explicação que escolhi e tirou (coincidentemente e) completamente qualquer sensação de culpa – acreditei que o casamento entre Agudo e Crase não suportava mais a hierarquia horizontal que, ao contrário da nossa, privilegia quem abaixo está.
Minha rotina manteve-se intacta. A manifestação surtiu efeito, meus acentos hoje são mais valorizados e, em contrapartida, voltei a contar com a colaboração de Agudos e Crases que agora dividem a mesma tecla em posição de igualdade, um ao lado do outro.

*Baseado em fatos reais

17 de novembro de 2006

Sem jeito para a timidez

“Eu sou mulher e vou dizer para você: homem interessante é homem tímido!” Ponto. (E) Dancei, maldita hora que eu fui escolher para me vangloriar, há cinco minutos eu me enquadrava perfeitamente no perfil ‘homem interessante’. E olha do que: de uns golzinhos do futebol de várzea, ela não está nem aí para futebol, foi contar uma história que aconteceu com ela num dos jogos da Copa – “Qual foi aquele jogo que deu a maior confusão em São Paulo?” – e eu desembestei a falar do meu futebolzinho; depois parti para as habilidades artísticas, “Escrever música que nem o Milton não é tão complicado assim”. Ai, ai, ai... “Homem... tímido”
E ela deu seus sinais. Olhou para o relógio mais de uma vez, coçou a sobramcelha e – tenha certeza que por educação – segurou uns três bocejos. Eu vi. Não estava, juro, botando panca de galanteador. Olhe que irônico: só estava tentando disfarçar a timidez! “Sou mulher... homem tímido”... Pô, se a idéia fosse impressionar, o sucesso estava garantido. Agora sim, estou totalmente desconfortável. “Maldita timidez, se eu fosse um pouco mais descolado conseguiria explicar que de fui ator, que sou tímido de nascença”. Agora sim eu preciso impressionar, mas como demonstrar o acanhamento? Não adianta demonstrar.
Discretamente anoto num guardanapo “Canção do Sal”, peço “por gentileza” que o garçom leve meu pedido ao músico. O fator sorte ajuda e o músico, não sugere “Coração de Estudante”. A música começa e eu sorrio sem jeito, “Fácil, né, escrever igual O CARA!”... Torço para ela entender a ironia... Anuncio a saideira, “Mais uminha só que amanhã tenho que brincar de bola com os outros meninos”. “Garçom mais uma cerveja e a conta, por favor” ... Será que ela engole essa?

O DIABO E A MULHER

Texto do meu tio (e mestre de cerimônia na maior parte dos vídeos da minha infância) Luiz. Conhecê-lo e ouvir suas histórias é diversão garantida.

O DIABO E A MULHER

Conta uma pequena história (lenda), que o diabo via frustradas muitas de suas tentativas de fazer o mal, por interferência da mulher.
Toda vez que o homem perdia a paciência ou desanimava, lá estava ela, com sua paz e energia, levantando o equilíbrio dele.
O diabo reuniu-se com seus assessores e depois de muito discutir chegou a seguinte conclusão :- "a mulher deveria descer ao mesmo nível do homem". Ela que sempre foi elevada, e neste aspecto era respeitada até pelos demônios, teria que mudar de papel, e baixar suas vibrações para cair ao ponto do orgulhoso homem que, ilusoriamente, se julgava superior.
Mas como fazer isso ? A tarefa não era fácil, pois a vaidade feminina se resumia apenas no embelezamento físico e não na idéia de comando.
Contratou um perito das sombras, em tarefas relacionadas com o orgulho e a vaidade humana, e este, que das trevas era um especialista, criou o movimento feminista.