E com os olhos enormes, como uma criança que se vê descoberta pelo padre sozinha na sacristia, respondeu “não” com a cabeça.
Os dois têm ali quinze anos; idade quando isso acontece.
– Não tenha medo. Beije meu corpo, sinta minha pele, sinta meu cheiro... descubra meu corpo.
O menino ia sem jeito, e vagaroso. A menina fechava os olhos e acendia todo o corpo; com o vento da respiração seus pêlos subiam e desciam. Suas mãos acariciavam sua nuca, enquanto lhe era beijado o ventre; a língua no umbigo arrepiou braço, perna e todo o dorso direito. Suspirava baixinho e sorria; com olhos fechados e os cachos de seus cabelos flutuando. Encontrou uma de suas mãos esquecida no travesseiro: beijou sua palma, cobriu o rosto com ela, tocou os lábios na ponta dos dedos e a pousou no seio esquerdo – acima de coração e pulmão que começavam a ofegar.
A menina já tinha tido outros namorados, não muitos. O menino era cordial; colocava sua curiosidade muito atrás do cuidado que tinha com ela. Tratava seu corpo como objeto que pudesse romper; estilhaçar. Alisou primeiro uma, depois a outra, perna – dos pés ao quadril; contornou a cintura; brincou com seu pêlos. Voltou a beijar seus seios e pescoço, e parou diante dela. Estavam tão próximos que os olhos tiveram dificuldade para focar os olhos um do outro.
– Não tenho medo. Aqui, em você, deixarei de ser menino e sempre que procurar este menino de volta, vou lembrar que ele está aqui; neste momento que durará para sempre em você e em mim.
Eles se beijaram por toda aquela tarde. Brincaram com as delícias de seus corpos nas semanas e meses seguintes. Até adormecerem um para o outro e acordarem em outros olhares. Choveu muito até o homem se lembrar do menino. Quando se lembrou, a mulher que lhe guardou já gerava outra criança (de outro menino) que iria se tornar menino e crescer lentamente até se tornar o homem que ela viu nascer nela um dia.
3 comentários:
Que texto lindo! Adorei a parte "deixarei de ser menino e sempre que procurar esse menino de volta, vou lembrar que ele está aqui.....choveu muito até o homem se lembrar do menino..." Super poético, coisa de almas sensíveis.
Parabéns!
beijos
Camis
O último romântico se esconde aqui, na minha Parahyba ?!?! E não gostas de poesias...curioso como mesmo não gostando faz poesia...esse texto é um lindo poema...um poema épico: o percusso da descoberta do 'ser, homem/menino pouco importa... melhor conversar no msn...rs
Adoro as coisas que escreve. São sempre muito lindas.
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